Arquivo de Ethereum - Liberdade Racional https://liberdaderacional.com.br/category/analise-critica/ethereum/ Notícias e análises críticas sobre ciência, tecnologia e poder Wed, 04 Jun 2025 15:16:26 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8.1 https://liberdaderacional.com.br/wp-content/uploads/2025/06/cropped-cropped-ChatGPT-Image-1-de-jun.-de-2025-13_14_08-32x32.png Arquivo de Ethereum - Liberdade Racional https://liberdaderacional.com.br/category/analise-critica/ethereum/ 32 32 A Ilusão da Descentralização: Como o Ethereum Virou Estado https://liberdaderacional.com.br/2025/06/02/a-ilusao-da-descentralizacao-como-o-ethereum-virou-estado/?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=a-ilusao-da-descentralizacao-como-o-ethereum-virou-estado https://liberdaderacional.com.br/2025/06/02/a-ilusao-da-descentralizacao-como-o-ethereum-virou-estado/#respond Mon, 02 Jun 2025 06:40:00 +0000 https://liberdaderacional.com.br/?p=251 Por Metaverso da Cyberciência Eles prometeram liberdade. Um sistema sem governos, sem bancos, sem intermediários. Um código inviolável,

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Por Metaverso da Cyberciência

Eles prometeram liberdade. Um sistema sem governos, sem bancos, sem intermediários. Um código inviolável, impessoal, capaz de operar acima de qualquer suspeita humana. Mas o que acontece quando esse mesmo código é reescrito? Quando a comunidade que pregava a imutabilidade da blockchain se vê obrigada a votar pela mudança de sua própria história?

O Ethereum nasceu em 2015 como uma promessa revolucionária. Enquanto o mundo enfrentava crises econômicas, instituições corroídas e a lenta agonia dos bancos centrais, um jovem canadense chamado Vitalik Buterin apresentava ao mundo uma nova proposta: uma plataforma onde contratos pudessem se autoexecutar, sem depender de juízes, leis humanas ou burocracia estatal.

Era o início dos chamados “smart contracts”. E, com eles, a narrativa de que o código seria a nova lei. Uma lei fria, precisa e incorruptível. A proposta parecia irrefutável: descentralizar tudo. Retirar o poder dos intermediários. Transferir a confiança das instituições humanas para a neutralidade da matemática.

Por um tempo, muitos acreditaram. Mas a crença na neutralidade do código colapsou no mesmo momento em que ele foi posto à prova.

Em junho de 2016, surgiu a The DAO – uma Organização Autônoma Descentralizada baseada na plataforma Ethereum. Em poucas semanas, investidores depositaram mais de 150 milhões de dólares, confiando na governança algorítmica daquele sistema. Mas o código da DAO continha uma brecha. E um atacante a explorou. O resultado: 60 milhões de dólares em Ether foram desviados.

A crise foi imediata. A comunidade que havia prometido não interferir no funcionamento do código se viu diante de um dilema moral e financeiro. E então, algo inédito aconteceu: o blockchain foi modificado. Um hard fork foi implementado para anular o ataque e restaurar os fundos.

Foi a primeira grande fratura ideológica do Ethereum. O sistema que dizia não precisar de governantes acabou governado. A fundação, os desenvolvedores centrais, os fóruns — todos participaram de uma decisão política. E quem se opôs a essa mudança seguiu em outra direção, fundando o Ethereum Classic.

O episódio revelou o que muitos não queriam admitir: mesmo na blockchain, há poder. Há centros de decisão. Há articulações e hierarquias. A descentralização, na prática, mostrou-se limitada. E, em muitos aspectos, ilusória.

Hoje, o Ethereum opera como uma infraestrutura global. Com bilhões em circulação, milhares de contratos e uma comunidade centralizada em torno de um ecossistema liderado por grandes validadores e pela própria Fundação Ethereum. O staking — processo de validação que deveria ser amplamente distribuído — é, em grande parte, dominado por grandes entidades. E as decisões mais relevantes continuam sendo tomadas em fóruns, votadas por vozes conhecidas, influentes.

A retórica da descentralização convive, de forma contraditória, com estruturas cada vez mais próximas de um Estado: há governança, há política, há disputas internas por direção ideológica e técnica. O código que deveria ser absoluto revelou-se maleável — e sensível à vontade de seus criadores.

Talvez a descentralização nunca tenha sido um destino, mas apenas um rótulo. Um argumento sedutor, que legitimou a criação de um novo centro, agora travestido de neutralidade tecnológica.

O Ethereum não aboliu o poder. Ele apenas o reconstruiu com nova roupagem: um código que obedece aos interesses daqueles que o mantêm.

No próximo episódio de Criptociência em 3 Atos, investigaremos por que o Bitcoin se parece mais com uma religião do que com uma moeda — e o que isso revela sobre nossa relação com a fé, o dinheiro e o futuro.

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