Por Liberdade Racional | 28 de maio de 2025
Tempestades solares, também conhecidas como tempestades geomagnéticas, são explosões de energia do Sol que liberam partículas carregadas e radiação em direção à Terra. Essas partículas podem interagir com o campo magnético terrestre, causando interrupções em sistemas tecnológicos. Pesquisas recentes da Universidade de Oulu, na Finlândia, identificaram uma tempestade solar em 12.350 a.C., 18% mais intensa que a de 775 d.C. e 500 vezes mais poderosa que a de 2005. Eventos históricos, como a tempestade de Carrington em 1859, já causaram danos significativos, e uma tempestade semelhante hoje poderia paralisar comunicações, transporte e energia. Este texto explora a ciência por trás dessas tempestades, seus impactos potenciais e as vulnerabilidades da sociedade conectada.
O que são tempestades solares?
Tempestades solares ocorrem quando o Sol emite ejeções de massa coronal (CMEs), grandes nuvens de plasma e partículas carregadas. Quando essas ejeções atingem a Terra, interagem com a magnetosfera, a camada magnética que protege o planeta. Isso gera correntes elétricas na atmosfera e no solo, conhecidas como correntes geomagnéticas induzidas (GICs). Em eventos extremos, as GICs podem sobrecarregar redes elétricas, danificar satélites e interferir em sinais de rádio e GPS.
A intensidade das tempestades solares é medida por índices como o Dst (Disturbance Storm Time), que avalia a perturbação do campo magnético terrestre. Eventos históricos, como a tempestade de 775 d.C., foram detectados por meio de isótopos de carbono-14 em árvores antigas, indicando picos de radiação solar. A tempestade de 12.350 a.C., identificada pela Universidade de Oulu, foi ainda mais intensa, com um impacto potencialmente devastador para infraestruturas modernas.
Eventos históricos e suas lições
A tempestade de Carrington, em 1859, é o evento solar mais conhecido. Causada por uma CME massiva, ela gerou auroras boreais visíveis até o Caribe e induziu correntes elétricas que danificaram linhas telegráficas nos Estados Unidos e na Europa. Operadores relataram choques elétricos, e alguns telégrafos funcionaram sem energia devido à corrente induzida. Na época, a dependência de tecnologia era limitada, mas os danos foram significativos.
Em 2012, uma tempestade de intensidade semelhante à de Carrington passou perto da Terra, mas não a atingiu. Dados da NASA mostram que, se tivesse ocorrido uma semana antes, os impactos teriam sido catastróficos, com danos estimados em US$ 2 trilhões, segundo a Academia Nacional de Ciências dos EUA. A tempestade de 2005, embora menos intensa, já causou falhas em satélites e apagões temporários em redes elétricas no Canadá.
A tempestade de 12.350 a.C., descoberta recentemente, foi 18% mais forte que a de 775 d.C. e 500 vezes mais intensa que a de 2005. Embora não haja registros históricos de seus impactos, simulações indicam que um evento semelhante hoje poderia colapsar infraestruturas críticas por semanas ou meses.
Impactos em uma sociedade conectada
A sociedade moderna depende de tecnologias vulneráveis a tempestades solares. Redes elétricas, que transmitem energia por longas distâncias, são particularmente suscetíveis às GICs. Em 1989, uma tempestade solar moderada causou um apagão de nove horas na província de Quebec, no Canadá, afetando 6 milhões de pessoas. Um evento no nível de Carrington poderia danificar transformadores de alta tensão, que levam meses para serem substituídos.
Satélites, essenciais para comunicações, GPS e previsão do tempo, também estão em risco. Durante tempestades solares, a radiação pode danificar painéis solares e eletrônicos, como ocorreu em 2003, quando 47 satélites sofreram falhas. A internet, que depende de cabos submarinos e satélites, poderia enfrentar interrupções generalizadas, impactando serviços bancários, comércio eletrônico e comunicações globais.
O setor de transporte também seria afetado. Aviões que voam em rotas polares, onde a proteção magnética da Terra é mais fraca, podem perder comunicações por rádio e enfrentar riscos de radiação para passageiros e tripulantes. Em 2019, a Administração Federal de Aviação dos EUA (FAA) emitiu alertas para companhias aéreas durante uma tempestade solar menor.

Vulnerabilidades tecnológicas e mitigação
A principal vulnerabilidade é a falta de preparação. Muitas redes elétricas, especialmente em países desenvolvidos, não possuem sistemas robustos para neutralizar GICs. Transformadores modernos são mais eficientes, mas menos resistentes a picos de corrente. Nos Estados Unidos, um relatório de 2020 da Comissão Federal de Regulação de Energia estimou que apenas 30% das subestações críticas têm proteção adequada.
Satélites comerciais, que compõem 80% da frota orbital, raramente são projetados para resistir a tempestades extremas, segundo a Agência Espacial Europeia (ESA). A dependência de constelações como Starlink, com milhares de satélites em órbita baixa, aumenta o risco de perdas em massa durante um evento solar.
Medidas de mitigação existem, mas são pouco implementadas. Sistemas de alerta, como os operados pela NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA), podem prever tempestades com até 24 horas de antecedência, permitindo que operadores desliguem equipamentos vulneráveis. Redes elétricas podem instalar dispositivos de bloqueio de GICs, e satélites podem ser colocados em modo de segurança. No entanto, o custo dessas soluções, que chega a bilhões de dólares, desencoraja investimentos em larga escala.
O papel do Brasil
No Brasil, o tema é pouco discutido, mas os riscos são reais. A rede elétrica nacional, gerenciada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), depende de linhas de transmissão que cruzam milhares de quilômetros, tornando-a suscetível a GICs. O país também utiliza satélites para comunicações e monitoramento, como o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações (SGDC).
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) monitora o clima espacial por meio do programa Embrace, mas os recursos são limitados. Em 2023, o INPE registrou perturbações menores causadas por tempestades solares, mas não há planos nacionais para mitigar eventos extremos. A dependência de tecnologias importadas, como transformadores e satélites, aumenta a vulnerabilidade do país.
O debate público é quase inexistente. Diferentemente de países como os Estados Unidos, onde a NASA e a FEMA (Agência Federal de Gestão de Emergências) publicam relatórios regulares, no Brasil o tema fica restrito a círculos acadêmicos. A falta de conscientização dificulta a pressão por políticas de proteção.
Perspectivas futuras
O Sol passa por ciclos de atividade de 11 anos, com o próximo pico previsto para 2025. Embora tempestades extremas sejam raras, a probabilidade de um evento no nível de Carrington nos próximos 100 anos é estimada em 12%, segundo a Universidade de Warwick, no Reino Unido. A tempestade de 12.350 a.C. mostra que eventos ainda mais intensos são possíveis.
Para o Brasil, a prioridade deve ser investir em monitoramento e proteção. Parcerias com agências internacionais, como a ESA e a NOAA, podem fortalecer o programa Embrace. Criar regulamentações para proteger infraestruturas críticas e promover o debate público é essencial para reduzir vulnerabilidades.
Tempestades solares são uma ameaça silenciosa, mas real. A sociedade conectada, que depende de energia, comunicações e transporte, não pode ignorar os riscos. Preparação e planejamento são a melhor defesa contra um evento que, embora raro, pode mudar o funcionamento do mundo moderno.
Fonte: Informações baseadas em estudos da Universidade de Oulu, relatórios da NASA, NOAA e INPE, e publicações da Academia Nacional de Ciências dos EUA.