Químicos Eternos: Por que 158 milhões de americanos estão em risco?
Publicado em 17 de maio de 2025
Redação Liberdade Racional
Em 16 de maio de 2025, uma decisão do governo de Donald Trump chocou especialistas em saúde pública: os limites para os chamados “químicos eternos” (PFAS) na água potável foram eliminados. Como resultado, cerca de 158 milhões de americanos estão agora expostos a água potencialmente contaminada. Mas o que são esses PFAS? Por que essa medida é tão controversa? E o que isso significa para o futuro da saúde pública nos Estados Unidos?
Chamados tecnicamente de PFAS (substâncias perfluoroalquiladas e polifluoroalquiladas), esses compostos químicos sintéticos são usados desde os anos 1940 em uma vasta gama de produtos do cotidiano. Estão presentes, por exemplo, em:
- Panelas antiaderentes (como o Teflon)
- Embalagens de fast-food
- Roupas impermeáveis
- Espumas de combate a incêndios
- Cosméticos e ceras industriais

O apelido “químicos eternos” vem de sua resistência: eles não se degradam no meio ambiente nem no corpo humano, acumulando-se ao longo do tempo no solo, na água e até no sangue.
Estudos da Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) e do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) mostram que 99% dos americanos têm traços de PFAS no corpo. Esses compostos estão ligados a problemas graves de saúde, incluindo:
- Câncer (especialmente de rim e testículo)
- Doenças hepáticas e da tireoide
- Infertilidade e complicações na gravidez
- Distúrbios no desenvolvimento de crianças
Até recentemente, a EPA mantinha regulamentações que limitavam os níveis de PFAS na água potável, com padrões rígidos para proteger a população. No entanto, o governo Trump, em uma política de desregulamentação, removeu esses limites, argumentando que as regras eram burocráticas e aumentavam custos para indústrias químicas e manufatureiras. A decisão foi tomada em meio a pressões de lobistas de setores que dependem de PFAS, como a indústria de plásticos e defesa.
Como resultado, sistemas de abastecimento de água em dezenas de estados agora operam sem restrições claras, afetando cerca de 158 milhões de pessoas — quase metade da população dos EUA. Cidades como Flint, Michigan, já marcadas por crises de água, e comunidades rurais com poços contaminados estão entre as mais vulneráveis.
A exposição prolongada a PFAS, mesmo em pequenas quantidades, é perigosa. Um estudo de 2023 da Universidade de Harvard estimou que níveis acima de 2 nanogramas por litro na água potável já aumentam riscos de câncer. Em muitas regiões, os níveis atuais superam 70 nanogramas por litro, especialmente perto de fábricas ou bases militares onde PFAS foram usados em grande escala.
Além disso:
- Tratar água contaminada e lidar com doenças relacionadas a PFAS pode custar bilhões de dólares aos sistemas de saúde e governos locais
- Comunidades de baixa renda, frequentemente próximas a zonas industriais, enfrentam riscos desproporcionais, aprofundando desigualdades de saúde
- PFAS não respeitam fronteiras: rios e oceanos contaminados afetam também países como o Canadá e o México
Ambientalistas e cientistas criticaram duramente a medida. A ONG Environmental Working Group chamou a decisão de “irresponsável”, enquanto médicos alertam para um aumento de casos de câncer e doenças crônicas nas próximas décadas. Por outro lado, defensores da desregulamentação, incluindo algumas associações industriais, alegam que os riscos são exagerados e que a economia americana precisa de “flexibilidade” para competir globalmente.

No curto prazo, estados como Nova York e Califórnia estão tentando impor suas próprias regulamentações, mas enfrentam desafios legais e financeiros. Soluções como filtros de carvão ativado ou osmose reversa podem remover PFAS da água, mas são caras e inacessíveis para muitas comunidades.
E no Brasil? Estamos protegidos?
Embora o debate sobre PFAS esteja mais avançado nos Estados Unidos e na União Europeia, o Brasil ainda engatinha no controle dessas substâncias. Estudos acadêmicos e reportagens isoladas já detectaram a presença de PFAS em rios, represas e estações de tratamento de água em estados como São Paulo, Paraná e Pernambuco. No entanto, o país não possui legislação específica nem limites definidos para a presença desses compostos na água potável.
Um levantamento feito pela Universidade Federal de Minas Gerais em 2022 encontrou níveis preocupantes desses compostos em amostras de água e solo próximas a aterros sanitários e regiões industriais. Ainda assim, faltam dados consolidados, e o tema segue ausente do debate legislativo e regulatório.
Enquanto isso, a água consumida por milhões de brasileiros pode conter traços invisíveis de compostos cancerígenos, sem que haja monitoramento obrigatório ou alertas à população.
O futuro incerto dos “químicos eternos”
A decisão do governo Trump expõe um dilema recorrente entre interesses econômicos e o direito à saúde pública. Os PFAS estão por toda parte — mas a resposta institucional segue fragmentada, tímida ou capturada por pressões da indústria.
Nos Estados Unidos, 158 milhões de pessoas já vivem esse risco silencioso. No Brasil, a ausência de dados e de fiscalização pode estar camuflando uma crise invisível e crescente.
A pergunta que persiste é direta e incômoda: até quando deixaremos os “químicos eternos” moldarem nosso destino silenciosamente?
💧 Assista também ao vídeo-documentário exclusivo produzido pelo canal Oficina do Infinito sobre este tema:
Os chamados “químicos eternos” (PFAS) afetam milhões de pessoas e estão presentes na sua água, no solo e até no seu corpo. O governo dos EUA tomou uma decisão radical em 2025. Entenda os riscos, os impactos e o que isso tem a ver com o Brasil no vídeo abaixo: